segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mas...

Os meus dedos não param
Ora dançam ora tacteiam
Perdidos e inconformados
Tentam enrolar cigarros
(Fruto da condição humana mais social)
Mas continuam empenhados
Ainda lentos, por vezes desiludidos
Há tabaco, folhas e fltros
Mas...

Voos taciturnos

Voam à minha frente pelo cabelo
Como se o pudessem ter
Esse dom que é voar
Que quem sonha voa
Quem pensa começa a aplanar
Longe ou perto
Mas sem o ser
Voam pelos folículos capilares
Esses vadios!

Transeunte

Perco-me na correria
Nos conceitos dos outros
Movimento-me fora de mim
Não me sento, não quero assim

Sinto o choro mudo
Vou fugir, morrer-me neles
Se me perder, posso ter-me
Terei presente, em vez de futuro













Profundamente ancorada
Abraçada, pelo Sol que desaparece
E se esquece, de voltar na madrugada
E parada, o ser em mim perece

Quem és tu?

Quem és tu?
Que entraste penetrante
No meu meio circundante
Que vens buscar?
Do meu ser elaborado
Com empenho e com cuidado
Onde vais?
Sem licença e com desdém
Do colo que te mantém
Que deixaste?
Uma nada disfarçado
De um tudo exacerbado
O que levas?
Meu glabro coração
Repartido em cada mão

Foste... eras

Voltei... sou

Queria...


Quero-te tanto
Querer é suspeito, é um defeito e... mesmo assim
Quero-te tanto
Querer é ter nada, é uma fala calada e... mesmo assim
Quero-te tanto
Querer é ausência, pede resistência e... mesmo assim
Quero-te tanto
Querer é perigoso, pode dar desgosto e... mesmo assim
Quero-te tanto
Querer é maldade, só deixa saudade e... mesmo assim
Quero-te tanto

Dois bancos de jardim

                                               *Nuno Videira










Sentado num tendente curvar na vida
Com seus cabelos a revelarem sabedoria
Na face um atributo do tempo
Nas mãos, um suscitar de pensamento

Um olhar que no nada muito revela
Com a pele que manifesta experiência
Exposição, um colorir de chocolate
Acaricia a flacidez que outrora revelou resistência

Mas resiste ainda, faltando um quê de algo
Gira o vulto, o mesmo sentir
Perante a contemplação que observa surgir

Gostava, querida pessoa desconhecida
De sentar a teu lado, perguntar como vai a vida
Passar-te a mão pelo rosto e
saber se almoçaste, se estava boa a comida

Continuas abstraído de mim
Mas cruzas os dedos, procuras apego
O que terás para me ensinar?
Neste tempo, neste lugar

Gosto de ti, tão simples quanto isso
Não pelo que és, mas porque és

Um soslaio visual de cautela
E ao mesmo tempo, um descanso sem medo
Pode haver um "ele", pode haver uma "ela"
Ma sabes o que vales em segredo

Como te queria falar
Agora mais que te vejo partir
Mãos nos bolsos a procurar outro canto
Na descoberta de qualquer cântico que desejas ouvir

Gosto de ti
Não te conheço
Só gosto de ti

Eu não escrevo

Eu não escrevo.
Deixo a tinta correr livre
nas páginas do meu sentir.
Mas eu não sinto.
Apenas fecho os olhos e escrevo no papel.
Um dia, vou experimentar
fechar os olhos
e sentir e escrever.
Não sei o que dali sairá
mas também...
eu não quero saber.
Porque haveria de querer?
As palavras perdem sentido
Os grafemas desfocam-se no tempo
até o papel se afarinha,
definha no escombro poeirento.
Recordações?
Recordações levam-nas o vento.
Leio-me, traduzo e interpreto
mas em mim não cabe alfabeto
e a Língua, a língua é molhada
na folha não se iria perceber nada.
Acaricio-te os lábios,
prefiro assim.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Esquema corporal possessivo

Em mim te apresentas
Não te tenho na mão
Mas na cabeça e no coração
E tão indelevel me tentas
Que a certeza sustentas
De que nos braços nos teremos
Nos lábios nos abraçaremos
Somos o colo da sensação

Senteverouço

«- Como sabes tanta coisa?

 - Ouvindo o que se sente, descobre-se muita coisa!

- Diz-me o que ouves...

- Quando olhares nos meus olhos, vais saber.

- E se eu não souber?

- Acredita que vais saber.»