domingo, 27 de dezembro de 2009

Silenciei-me em falas mansas

Silenciei-me em falas mansas
Num jeito de abandono
E para afastar sinais de entono
Entreguei-me às semelhanças
Olvidei a maiêutica inflamada em mim

Pávida pela minha ausência
Perguntou a lua transviada
Porque estás tão calada?
Não te reconheço nessa indolência
Desaprovo que permaneças assim

Embaraçada, verticalizei meu vulto
Hesitante, despertei o âmago adormecido
O boémio, que na noite anterior tinha saído
Embriagou-se, por isso estava tão estulto
Aparvalhámo-nos os dois, enfim

De seguida, olhei-o, enternecida
Reconheço-lhe os traços no rosto
Os ideais espalhados no gosto
Na epiderme, espelhadas as marcas da vida
Conheço-o no seu mais remoto confim

Recompus-me, estava na hora!
Falei embevecida no entusiasmo
Fui eu e ele, meu âmago vasto
Quem nos silencia se cala agora
Afinal, no não reside o valor do sim

Só eu me ofereço a presente

Só eu me ofereço a presente
Num pensamento erróneo do ser
Pelo que espero ou espero querer
Não conheço, não vejo gente

Impressionável esta sensação sentida
De um trôpego sentimento meu
Que desfoca, desvanece e embacia
Sôfrego, sob o denso e obscuro céu

Blows...

The wind blows wild

in the twilight of our being

and even the moon smiles

while we let ourselves going...

over, over... over and over again . . .

Espreita a Lua envergonhada










Espreita a Lua envergonhada…
Sim, tu Lua
No teu sopro fumado
Que te escondes por entre a neblina
Ou te desculpas pelo seu mover
E agora eu
Que me esforço em flexão mediada
Só para te ver
E saber que ainda aí estás
Desloco a cortina
E te olho de novo
E ainda mais na agitação do mundo
Que te encobre, mas não te oculta
Longe, no teu conforto…
Posso tratá-la por tu, não posso?
Afinal somos íntimas
Tão perto das estrelas,
Mas sem lhes tocar
Companheiras no encaminhar de sonhos
Sempre ambicionamos ter luz própria
Não temos? Mas assim nos vêem
E não és intermitente
Mais ou menos exposta apenas
É brilho
Se não em nós, no olhar
Que nos contempla e nos quer tocar
Lunáticas e queridas
E o caminho nos afasta
Mas sempre aqui estamos
Presentes, escondidas talvez
Convido-te para beber um copo
Sei que queres tanto como eu
Afinal, somos idênticas no sentir
Olá! Ainda aí estás?
Pois é… Esperamos sempre
Pela despedida de quem nos vira as costas
Nunca nos observam partir...

Fervência fervente

Fervência,
Prometeste nada, nada pedi
Promessa de pedido surreal este
Mas que existe
Que vem, vai, volta e persiste
Que julgo sentir, sinto…senti?
E sem ti, sou diferente
Mais eu, não tão em mim
Pegadas calçadas, enfim
Ser distorcido ao qual não faço frente
Mas agora, mais brilhante pontilho
Ainda em dúvida de sonambulismo
Francamente receptiva ao idealismo
Que define, delineia o meu trilho
Fervente

Alimento cruel

Cruelmente alimentamos
O sentir que exala em mim
Que tem como réstia mergulhar
Num pesar sem fim, mas
Mesmo assim, continua
Torna-me náufraga
Mal vestida mas sentida
Dorida mas servida
Desse bem-querer que vive aqui
Bem perto, mas tão longe
Difícil de agarrar
Que teima em não chegar
Mas permanece sem sair...